domingo, 16 de abril de 2017

Catálogo da Semana - Fiat Uno Mille (1990)

A história não é nova, até posso pensar que você, amável leitor(a), sabe bem como o Uno Mille fo lançado. Mas a prosa é boa, não custa recordar: lá em 1990, após um inverno em matéria de automóveis importados (que tiveram uma séria restrição às importações, que durou de 1976 até 1990), o mercado nacional começou a receber os importados.
 
Eu ainda não era nascido em 1990, mas posso bem imaginar o rebuliço do mercado ao começar a receber as primeiras levas de automóveis produzidos além das nossas fronteiras: desde os aristocráticos BMW e Mercedes-Benz, passando pelos despojados Lada, tudo que fosse de fora era consumido e muito bem recebido.
 
 
Mas, além do contexto da reabertura das importações, tivemos a alteração do IPI (imposto sobre produtos industrializados), de forma a beneficiar, com uma menor alíquota, os veículos com cilindrada inferior aos 1.000cm³. Os projetos da inventiva Gurgel (com motor de 0,8 l de cilindrada) foram imediatamente agraciados por essa redução do custo de produção - mas a Fiat, sempre muito astuta, tinha uma boa carta na manga.
 
Mas não era apenas uma carta, quase um baralho todo: o famoso motor Fiasa 1050, que a gente conhece desde os tempos do pioneiro Fiat 147, o qual, por sinal, recebeu um leve aumento de seu deslocamento volumétrico para não pagar mais imposto. Reduzida a alíquota, a Fiat reduziu um pouquinho o seu motor, alterou as relações de transmissão e pegou a sua versão mais simples (o Uno S) e deu uma boa enxugada no já enxuto acabamento para ter um Uno com o menor custo possível.
 
Assim, nasceu o Uno Mille, o Uno Mil, que não foi o primeiro carro popular nacional, mas foi um dos mais bem sucedidos. O catálogo, da época do lançamento, disponibilizado pelo excelente site Old Cars Manual Project, que ora disponibilizo, ajuda a explicar um pouco mais deste interessante automóvel:
 


 

 
 
É claro que não existia almoço grátis no Uno Mille: a transmissão com a quinta velocidade e os encostos de cabeça dianteiros eram opcionais, assim com a ignição eletrônica -  itens que foram eliminados em nome do menor custo do modelo básico. E na lista de opcionais não tinha nem a opção de calotas (ou mesmo os difusores de nas extremidades do painel).
 
Até mesmo quando a linha Fiat recebeu um retoque de estilo (a frente mais baixa), o Uno Mille ficou com a antiga frente; mas, com o passar dos tempos, o Mille ficou mais bem equipado, até mesmo dispondo, opcionalmente, de ar-condicionado (isso em 1993). Mas, mesmo simples, o Uno fez história e pegou seus concorrentes com as calças curtas: a Volkswagen, a Ford e a Chevrolet não tinham, de imediato, um veículo para concorrer no setor dos 1,0: o Chevette Júnior, em 1992, foi uma opção emergencial. E as versões definitvas só vieram mais tarde: o Gol 1000 (1993) e o Escort Hobby (1993) e o Corsa (1994), todos com a difícil missão de combater o Uno.
 
Pessoalmente, gosto muito do Mille (como passou a ser chamado em 2005), até por questões afetivas: meu primeiro carro foi um Mille, já usado (e bem usado), carro que me ensinou a dirigir e até hoje me lembro dele, robusto, estável e muito confiável. Saiu de linha, nesta versão, no ano de 2013, mas deixou sua marca na história automotiva nacional.
 


domingo, 2 de abril de 2017

Catálogo da Semana: Linha Belina 1988

Como sabemos, o Corcel foi lançado, na versão sedan quatro portas, em 1968; um ano depois, veio ao mundo a muito bem sucedida versão cupê - e em 1970, foi a vez do veículo que ilustra o catálogo desta semana, a Belina.
 
Mas ela não nasceu do jeito em que ela aparece neste catálogo de 1988; no começo, ela era calcada no Corcel, inclusive nas linhas, tanto que em 1978 recebeu a maior reestilização de sua carreira, abandonando as linhas curvas e fluidas e adotando um visual mais reto, muito parecido com a que vemos hoje. E após 1986, com o fim do Corcel, a Belina prosseguiu sua carreira, mas agora na base do Del Rey.
 
Seja como for, a Belina tinha um público cativo: com um conforto acima da média de suas concorrentes, tinha uma mecânica consagrada (de 1984 em diante, usava o motor CHT que o Escort inaugurou), um acabamento muito bem executado (principalmente na versão Ghia, a topo de linha) e uma suspensão macia, muito tranquila, adequada para um carro com pretensões familiares.
 
É de se lamentar que a Belina, como a Marajó e a Caravan, não tenha recebido uma versão quatro portas; mesmo assim, a interessante perua para o ano de 1988 era interessante, apesar da fama, em parte justificada, de ser um carro meio soneca, mercê do comedido motor 1,6 e a sua suspensão macia.
 



 
Este interessante folheto, cortesia do incrível site Old Cars Manual Project, traz-nos interessantes detalhes da Belina para o ano de 1988: bem se nota a enorme diferença entre os equipamentos da versão L (a básica) e a Ghia. Tanto que a fábrica não dispunha de rádio toca-fitas para a versão L, nem mesmo como opção, problema que as concessionárias e lojas de acessórios resolviam com muito prazer.
 
E nem se fale da direção hidráulica, de série na versão Ghia e opcional na versão GLX: já tive a oportunidade de manobrar uma Belina L sem o útil acessório, e posso garantir que ele faz uma certa falta.  Mas isso não a desabona: ela roda há mais de vinte anos com o mesmo dono, na lida, servindo uma serralheria, em excelente estado de conservação, com vocação para durar mais uns trinta anos. Pelo menos.
 
Em 1989, a Belina resolveu uma crítica dos seus detratores: ela veio com a opção do motor 1,8, fruto da Autolatina (o casamento entre Ford e VW), tornando-a muito mais interessante e ágil, sem muito prejuízo ao consumo. A perua Corcel (e depois Del Rey), durou até 1991, substituída, tempos depois, pela Royale, mas muitas rodam até hoje, firmes e fortes, demonstrando, a cada dia, a robustez que lhe deu a merecida fama.